terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cresce em seis vezes o número de moradores de rua em Fortaleza

Em O POVO de hoje:
"Neném” é quase invisível. Não fosse por olhar os carros estacionados na movimentada avenida Dom Luís, pedindo uns trocados, ninguém notaria a presença dele. O homem de 30 anos, que prefere não aparecer para que a família no Interior não saiba por onde ele anda, dorme pelas calçadas, aninhando-se entre caixas de papelão e lençóis velhos. Antes, em Messejana. Agora, “na elite da Cidade”. “Lá (Messejana), arrumei um inimigo na rua. Não tinha mais como dormir com ele. Eu podia dormir e não acordar mais”.
Entre idas e vindas na rua, desde a adolescência, quando veio embora para a “cidade grande” e se envolveu com drogas, trabalhos e casamentos que não deram certo, ele vai vivendo. “Rua é bom. O ruim é na hora de dormir”. Neném, como é conhecido pelos companheiros, é mais um dos tantos que fizeram do relento a própria casa, na Capital. Apesar da dificuldade de mensurar essa população, por falta de pesquisas recentes, dados da Prefeitura revelam que o número de moradores de rua aumentou seis vezes (cerca de 618%), de 2008 para cá.
Em 2008, 235 (adultos acima de 18 anos) eram acompanhados pelos serviços oferecidos à população de rua. Em três anos, a quantidade de moradores acolhidos nos serviços subiu para 1.688. “A gente sente pelos nossos serviços que a população em situação de rua aumentou, sim. Só não sabemos ainda precisar o quanto”, afirmou a coordenadora da Proteção Social Especial da Secretaria Municipal da Assistência Social (Semas), Andreia Cortez. Para ela, a falta de emprego, o envolvimento com drogas e os conflitos familiares têm levado as pessoas às ruas.
“Não é a maioria, mas existem também aquelas pessoas que estão na rua porque querem liberdade, não querem comprometimento com as regras da sociedade. E fizeram disso um estilo de vida”, acrescentou. A maioria, segundo a coordenadora, se localiza no Centro e nas proximidades da avenida Beira Mar. Fernanda Gonçalves, secretária da Pastoral do Povo da Rua, citou ainda bairros com centros comerciais, como Montese, Benfica e Parangaba. “Nesses locais, eles têm possibilidade de se virar para conseguir sustento, como flanelinhas, carregadores de feira”.
Solução?
Apesar de ainda não ter dinheiro suficiente, Neném, que olha os carros na avenida Dom Luís, não quer ficar para sempre nas ruas. Sonha, tem vontade de mudar. Quer reduzir a dependência do crack. E ter onde morar. “Vou me juntar com outro e alugar um cantinho pra dormir sossegado”. Para a Coordenadora do Laboratório de Pesquisas e Estudos em Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece), professora Aurineida Maria Cunha, no entanto, resolver a problemática dos moradores de rua é algo complexo. Vai além do lugar para morar ou de tratamentos para abandonar as drogas.
Ela aposta na implementação de políticas públicas que articulem os direitos à habitação, à educação, à saúde, ao trabalho e ao lazer, por exemplo. Fernanda Gonçalves, da Pastoral do Povo da Rua, concorda. “É preciso mexer com as estruturas. Não é dar esmola, nem migalhas. É garantir que haja uma ação integrada entre os vários setores: assistência social, habitação, saúde...”.

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