Por Custódio Pereira - O Estado de S.Paulo
As instituições privadas de ensino superior assumem posição muito estratégica
no Brasil, pois depende delas o sucesso na consecução de três metas decisivas
para o desenvolvimento nacional: atendimento à demanda anual de alunos, formação
de recursos humanos qualificados e em número suficiente para impedir o "apagão"
de mão de obra que se delineia no País e incremento da pesquisa e inovação -
que, a despeito de seu avanço, não podem ficar restritas a poucas universidades,
tanto públicas quanto privadas.
No tocante ao primeiro objetivo, cabe enfatizar que a cada ano se formam 2
milhões de jovens no ensino médio brasileiro, dos quais 1,1 milhão ingressa
diretamente em faculdades. Esse número já inclui os bolsistas do Programa
Universidade para Todos (ProUni) e os abrangidos pelo sistema de cotas. Apesar
de o ProUni ter contribuído para que expressivo contingente de jovens passasse a
ter acesso à educação universitária, a verdade é que ainda temos um déficit
anual de 900 mil estudantes. Estes não conseguem entrar em instituições públicas
ou não podem arcar com a anuidades de escolas particulares.
Estima-se que mais 100 mil vagas sejam criadas nas universidades públicas
federais, em decorrência do investimento de R$ 2,4 bilhões anunciado pelo
governo em 2010. Mesmo assim, continuamos com uma demanda reprimida de 800 mil
alunos/ano fora do ensino superior. É preciso atendê-los com qualidade, o que
somente será possível, em curto prazo, por meio de instituições privadas,
mediante ampliação dos programas de bolsas de estudos, muito viáveis e
exequíveis, conforme tem evidenciado o sucesso do ProUni. As faculdades
particulares, portanto, devem estar cada vez mais preparadas para esse
propósito.
Quanto à formação de recursos humanos, um desafio consentâneo com a
capacidade de atendimento à demanda de alunos, não basta oferecer vagas, é
crucial a qualidade da formação acadêmica. Um bom exemplo relativo às profissões
de nível de ensino superior se refere aos engenheiros. Formam-se 38 mil desses
profissionais por ano no Brasil, mas a demanda do mercado é de 60 mil. A procura
tende a ser cada vez maior, em razão do crescimento da indústria do petróleo e
do pré-sal.
Além disso, há toda a demanda relativa à edificação da infraestrutura
necessária à realização da Copa do Mundo da Fifa, em 2014, e da Olimpíada do Rio
de Janeiro, em 2016. Pelo menos as 12 cidades brasileiras que sediarão o mundial
de futebol, dentre elas a capital fluminense, na qual terão lugar as duas
competições, serão autênticos canteiros de obras nos próximos anos, considerando
as reformas e a construção de estádios, adequação dos espaços urbanos,
estruturas de transportes coletivos e adequação de aeroportos. Levando em conta
o atraso nos cronogramas, é possível inferir a grande demanda de engenheiros e
profissionais de áreas correlatas, em curto espaço de tempo.
Finalmente, no que diz respeito à pesquisa e inovação, ainda é insipiente o
seu desempenho no contexto das instituições particulares, ao contrário do que se
observa em numerosos países desenvolvidos, em especial no tocante à ciência
aplicada. É verdade que são relevantes os avanços do Brasil nesse campo tão
decisivo para o fomento econômico. Nossas universidades formam cerca de 12 mil
doutores por ano, número que deverá crescer de modo significativo a partir do
novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG). O País também já havia alcançado o
13.º lugar no ranking mundial da produção científica, posição conquistada em
2008. Naquele ano, a publicação de artigos científicos atingiu a expressiva
marca de 30.451.
Para ampliarmos todos esses indicadores precisamos de novas alternativas.
Nesse sentido, exemplo interessante vem da União Europeia, especificamente da
Espanha. O programa Campus de Excelência Internacional - que surgiu por causa da
crise econômica nacional - conta com 37 projetos, de 35 universidades, que são
mantidos com 70% de recursos públicos, e o restante do financiamento é
proveniente de empresas. Para prestar esse importante auxílio essas organizações
observam e acompanham o desenvolvimento dos projetos.
Avançar em produção científica, pesquisa e inovação é crucial, pois nossos
indicadores estão aquém das necessidades de uma nação com 190 milhões de
habitantes, detentora da maior reserva hídrica, da mais ampla biodiversidade, da
mais extensa área disponível para agricultura e bioenergia e de uma das mais
abundantes reservas petrolíferas do mundo (a do pré-sal). Ou seja, um país que
precisa de conhecimento e tecnologia para converter seus fabulosos recursos
naturais em fatores de soberania, geração de riquezas, criação de empregos e
vantagens competitivas no âmbito da economia mundial. Não podemos esperar que
toda essa demanda possa ser atendida apenas nos laboratórios acadêmicos do setor
público.
Por todas essas razões, a gestão das instituições privadas do ensino superior
deve ser eficaz e profissional. Essas escolas, tão ou mais do que as empresas,
precisam responder aos requisitos contemporâneos da sustentabilidade, sendo
economicamente viáveis e, principalmente, socialmente justas, para terem
longevidade, poderem receber alunos de todas as esferas socioeconômicas,
ministrar-lhes educação acadêmica de excelência e produzir tecnologia e
conhecimento. Estamos construindo o Brasil que queremos para o futuro dos nossos
filhos e netos. Por isso a academia tem enorme responsabilidade em oferecer o
que tem de melhor, independentemente das instituições de ensino serem com ou sem
fins lucrativos. O País precisa que seja assim!
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